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Publicado: 19 Outubro 2020
Os transtornos alimentares possuem uma etiologia multifatorial, composta de predisposições genéticas, socioculturais e vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Entre os fatores predisponentes, destacam-se a história de transtorno alimentar e (ou) transtorno do humor na família, os padrões de interação presentes no ambiente familiar, o contexto sociocultural, caracterizado pela extrema valorização do corpo magro, disfunções no metabolismo e traços de personalidade.
A dieta para emagrecer é o fator precipitante mais frequente nos TA, sendo um comportamento comum nas sociedades ocidentais ou ocidentalizadas, onde predomina o ideal da magreza. Porém, a dieta, isoladamente, não é suficiente para produzir os transtornos alimentares. Ela precisa interagir com os fatores de risco já descritos para levar a este desfecho.
Em contrapartida, a alimentação vegetariana tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Segundo a última pesquisa do IBOPE (2018) 14% da população se declara vegetariana. Ao contrário dos motivos apontados pela reportagem do Viva Bem, dentre as principais motivações para mudança declarados são as preocupações éticas, ambientais e também as preocupações com a saúde. Mostrando que cada vez mais as pessoas estão tendo mais consciência com os impactos de suas escolhas alimentares principalmente as questões ambientais que estão cada vez mais em evidência na atualidade.
Além disso é possível evidenciar posicionamentos e pareceres de órgãos e instituições nacionais e internacionais que apoiam a redução do consumo de carnes como a American Heart Association (AHA), a Food and Drug Administration (FDA), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Kids Health (Nemours Foundation), o College of Family and Consumer Sciences (University of Georgia), a Associação Americana Dietética e Associação Americana de Pediatria apoiam a redução ou exclusão do consumo de alimentos de origem animal e aumento de alimentos à base de vegetais como forma de ampliação do repertório alimentar. É importante mencionar que as dietas plant based estão consistentemente associadas a menores taxas de obesidade, níveis de colesterol e pressão arterial. Segundo a Academia de Nutrição e Dietética (Academy of Nutrition and Dietetics), uma dieta baseada em vegetais é apropriada para todas as fases da vida, incluindo a infância e a adolescência. A American Heart Association também se posicionou assegurando os benefícios do consumo de alimentos vegetais como base alimentar, afirmando que esse tipo de dieta demonstra prevenir e trazer menores riscos de obesidade, doença coronariana, pressão alta, diabetes mellitus e algumas formas de câncer
À medida que reduzimos ou excluímos os alimentos de origem animal e aumentamos os alimentos à base de vegetais, aumentamos a oferta de leguminosas, cereais integrais e alimentos mais naturais, compondo refeições ricas, estimulantes e nutritivas que, conforme afirmado acima, conotam reais benefícios à saúde física e emocional, sendo incoerente intitular a alimentação vegetariana como uma escolha restrita e além disso, inclui-la de modo generalista no grupo de “dietas da moda” ou “dietas restritivas” que, na maioria das vezes, tem como fator motivacional, questões ligadas à padrões estéticos.
Um estudo recente publicado em setembro de 2020 pela revista Appetite, avaliou as principais preocupações com o corpo de 101 vegetarianos e onívoros entre 18 e 71 anos. A metodologia do estudo incluiu a aplicação do Food Choice Questionnaire (FCQ), o Eating Attitudes Test-26 (EAT-26) e o Body Shape Questionnaire (BSQ). Os resultados da pesquisa demonstraram que a dieta vegetariana não está associada ao desenvolvimento de transtornos alimentares.
As evidências sobre a relação do vegetarianismo e os transtornos alimentares são heterogêneas e essa associação ainda está sendo discutida. Sendo assim, é possível afirmar que a alimentação vegetariana não é um fator de desencadeamento para transtornos alimentares, sendo uma escolha benéfica e preventiva para diversas doenças.
Alessandra Luglio CRN3 6893
Maria Julia Rosa CRN2 14630
Renata Victoratti CRN3 54633
Referências:
American Heart Association. Heart and stroke encyclopedia: vegetarian diets. 2020.
DORARD, G.; MATHIEU,S.Vegetarian and omnivorous diets: A cross-sectional study of motivation, eating disorders, and body shape perception, Appetite, v.156, 2020.
MORGAN, Christina M.; VECCHIATTI, Ilka Ramalho; NEGRÃO, André Brooking. Etiologia dos transtornos alimentares: aspectos biológicos, psicológicos e sócio-culturais. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 24, p. 18-23, 2002.
VESANTO, M. et al. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Vegetarian Diets. J Academy of Nutrition and Dietetics. v.116, n.12,. p.1970–80, 2016.