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Publicado: 16 Junho 2021
Análise e confronto científico do artigo recém-publicado no The American Journal of Clinical Nutrition que avaliou o crescimento, composição corporal e riscos cardiovasculares e nutricionais entre onívoros, vegetarianos e veganos da Polônia.
Um estudo polonês publicado no The American Journal of Clinical Nutrition (2021), comparou crianças de 5 a 10 anos que seguiam uma alimentação equilibrada vegetariana (n=63) e vegana (n=52) com a onívora (n=72). Os pesquisadores avaliaram a composição corporal, crescimento, risco cardiovascular e nutricional. O estudo mostrou que as crianças veganas consumiam mais fibras, carboidratos complexos, gorduras poli-insaturadas, folato, carotenoides, vitamina C e magnésio. Os veganos apresentaram os menores índices de massa corporal (IMC), estatura e gordura corporal, menores níveis de colesterol LDL bem como baixo nível de PCR (indicador de inflamação). Por outro lado, as crianças veganas apresentaram os maiores níveis de massa magra e melhores parâmetros protetores de doenças cardiovasculares. Embora uma menor ingestão de proteínas seja citada em veganos, a média de 42,4g por dia é mais do que adequada e excede a ingestão recomendada.
Porém, o que mais repercutiu nesse estudo foi o fato das crianças veganas participantes terem uma estatura menor, gerando uma repercussão negativa e manchetes sensacionalistas sobre a alimentação vegana. De fato, o estudo mostrou que as crianças veganas eram cerca de 3 cm mais baixas (porém ainda normais) do que as onívoras e tinham densidade óssea mais baixa. Mas, apenas um terço das crianças veganas estavam sendo suplementadas de forma adequada com vitamina D e um terço não estava suplementando com vitamina B12. A ingestão média de cálcio foi de apenas 376 mg por dia. No Reino Unido, para esta faixa etária, recomenda-se 550 mg de cálcio. O próprio estudo fala sobre a relevância da suplementação de vitamina D em crianças que consomem dietas à base de plantas.
Em contrapartida, Alexy et al conduziram um estudo alemão com uma amostra maior do que o estudo polonês, que contou com 401 participantes de 6 a 19 anos, divididos em 3 grupos, onívoros (n=137), vegetarianos (n=149) e veganos (n=115), e mostrou não haver risco nutricional entre as crianças e adolescentes veganos e vegetarianos. De modo que os autores concluem "o estudo confirma que uma dieta vegana pode atender às necessidades de nutrientes na infância e adolescência". Nele, os veganos estavam suplementando adequadamente com vitamina B12 e D e com uma ingestão muito melhor de cálcio. Embora a densidade óssea não tenha sido relatada, as crianças veganas tiveram um crescimento normal e uma ingestão saudável de nutrientes em comparação com os grupos vegetarianos e onívoros. Vale ressaltar que a vitamina D foi baixa em uma parte considerável da amostra do estudo independentemente do tipo de alimentação. E mesmo que a ingestão de vitamina B12 dos alimentos tenha sido baixa entre os participantes veganos, de acordo com as concentrações dos biomarcadores a deficiência dessa vitamina não ocorreu, mostrando que a suplementação no grupo dos veganos é suficiente para garantir o bom estado nutricional dessa vitamina. Independentemente do tipo de alimentação a ingestão de cálcio também foi baixa.
É importante deixar claro que, além do cálcio e da vitamina D, vários outros fatores dietéticos e não dietéticos afetam a saúde óssea e a relação entre os padrões de alimentação vegetariana e vegana e a saúde óssea é complexa e ainda não totalmente compreendida. De qualquer forma, crianças e adolescentes veganos e vegetarianos são encorajados a alcançar a ingestão adequada de cálcio para evitar efeitos prejudiciais à saúde óssea. Além disso, um nível adequado de vitamina D é importante para garantir uma absorção intestinal de cálcio suficiente, em particular ao consumir uma dieta vegana. Portanto, a suplementação de vitamina D deve ser incentivada entre os indivíduos veganos para otimizar a absorção do cálcio dietético.
O que fica claro nesses dois estudos é que quando planejadas, com o adequado nível de vitamina B12 e D, as dietas veganas podem proporcionar uma boa saúde às crianças e gerar benefícios para a saúde cardiovascular e metabólica. O estudo polonês inclusive concluiu que a alimentação vegana, bem planejada, na infância pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares na vida adulta, o que mostra umas das vantagens potenciais de uma dieta vegana. Ressaltando que a aterosclerose (acúmulo de gorduras nas artérias dificultando a passagem do sangue) começa na infância sendo um potencial fator para risco de doenças cardiovasculares na vida adulta.
Os dois estudos reforçam a importância de toda e qualquer alimentação ser equilibrada e bem planejada, a fim de atender as necessidades de todas as fases da vida, seja vegana, vegetariana ou onívora. E, também, ressaltam que novas pesquisas são necessárias para entender mais detalhadamente os resultados obtidos, principalmente em relação à densidade óssea.
Referência:
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Desmond, M.A, et al. Growth, body composition, and cardiovascular and nutritional risk of 5- to 10-y- old children consuming vegetarian, vegan, or omnivore diets. The American journal of clinical nutrition, nqaa445. 19 Mar. 2021, doi:10.1093/ajcn/nqaa445
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Alexy, U, et al. Nutrient Intake and Status of German Children and Adolescents Consuming Vegetarian, Vegan or Omnivore Diets: Results of the VeChi Youth Study. Nutrients, 13, 1707. 2021. doi.org/10.3390/nu13051707
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