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Publicado: 17 Agosto 2020
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, também aponta alta nos gastos com carnes e alimentos preparados; piora nutricional ameaça economia e preocupa especialistas.
Os alimentos ‘in natura’ e minimamente processados perderam espaço na mesa do brasileiro, nos últimos quinze anos. O destaque ficou com os cereais, leguminosas e oleaginosas, que agora ocupam metade do espaço no orçamento doméstico, em comparação ao início dos anos 2000.
Os dados da última edição da POF, referente a 2017/18, mostram que a população destinou apenas 5% da despesa média mensal para o grupo deste tipo de alimento. Na edição de 2002/03 da mesma pesquisa, o índice era de 10,4%. As regiões Nordeste (6,7%) e Norte (5,7%) marcaram os melhores resultados no levantamento de 2017/18, enquanto o Centro-Oeste (5,1%), o Sudeste (4,5%) e o Sul (3,7%) ocuparam as últimas posições.
Por outro lado, os recursos destinados ao consumo de carnes, vísceras e pescados, registraram crescimento, saltando de 18,3% em 2002/03 para 20,2% em 2017/18. Os Alimentos Preparados, por sua vez, também acompanharam o movimento das carnes e passaram de 2,3% para 3,4% do orçamento doméstico, no mesmo período.
A mudança na base nutricional do brasileiro não ameaça apenas o meio ambiente, mas principalmente a sua saúde, diz a Associação Dietética Americana. Além de consumir menos recursos como água e solo, uma dieta a base de vegetais previne várias doenças. Veganos e vegetarianos têm menos risco de desenvolver problemas cardíacos, diabetes do tipo 2, hipertensão, certos tipos de câncer e obesidade. O baixo consumo de gorduras saturadas associado à maior ingestão de vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, derivados de soja, castanhas e sementes (todas ricas em fibras e fitoquímicos) são características de dietas veganas e vegetarianas, resultando em baixo nível de colesterol e melhor controle da glicose (açúcar).
ODS-ONU
Para especialistas, o desequilíbrio nutricional também pode afetar o desenvolvimento econômico e social do Brasil. O cenário contraria, inclusive, boa parte dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ODS-ONU) em 2015 e com metas estabelecidas até 2030.
“A manutenção de animais como estoques de alimento exerce uma pressão sem precedentes sobre todos os ecossistemas. Além de produzir resíduos sólidos, líquidos e gasosos em grande quantidade, dietas com alta proporção de alimentos de origem animal estão associadas a prevalências mais altas de doenças cardiovasculares, diabetes e vários tipos de câncer”, avalia Renata Victoratti, Nutricionista e Assistente de Campanhas da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford mostra que a redução no consumo de carnes poderia economizar mais de R$ 100 bilhões em gastos com saúde e perda de produtividade no trabalho no Brasil, até 2050. O montante representa quase a metade do investimento necessário para expandir os serviços de saneamento e tratamento de água para os 100 milhões de brasileiros que ainda não o possuem.
De acordo com um relatório do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Agência Alemã para a Cooperação Internacional, a pecuária é o setor da economia com os maiores custos em perda de capital natural: para cada R$ 1 milhão de receitas do setor, R$ 22 milhões são perdidos em capital natural e outros danos ambientais. De forma semelhante, as operações de abate e processamento de animais custam ao país, em danos ambientais, 371% a mais do que a receita que geram.
OBESIDADE
A falta de uma alimentação equilibrada fez o número de pessoas obesas disparar mais de 70% entre 2006 e 2019, no Brasil. O Vigitel, que pertence ao sistema de Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis do Ministério da Saúde, aponta que a porcentagem de brasileiros obesos passou de 11,8%, no início do período, para 20,9% no ano passado. Em outras palavras, dois em cada dez brasileiros sofrem com esse problema atualmente. De acordo com o Jornal da USP , além de aumentar o risco de câncer, a obesidade é um dos fatores de risco da covid-19 . Fatores como o aumento do sedentarismo, redução da atividade física, sobretudo para o lazer, e a piora na alimentação tendem a agravar o problema.
SEGUNDA SEM CARNE
A Campanha Segunda Sem Carne (SSC) é um convite a substituir, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal. Coordenado pela SVB, a SSC brasileira é atualmente a maior do mundo na promoção do veganismo, distribuindo mais de 80 milhões de refeições à base de vegetais em 2019, crescimento de 20% em relação ao ano anterior.
O objetivo do trabalho é promover um primeiro passo para a descoberta de novos sabores, promovendo uma alimentação balanceada e contribuindo também para a prevenção de doenças provocadas pelo consumo em excesso de produtos de origem animal. Atualmente, mais de três milhões de pessoas são beneficiadas pelo programa, considerado o maior do mundo atualmente. A SSC está presente em mais 100 municípios e economiza mais de duas mil toneladas de carne bovina anualmente.
“É importante lembrar ainda sobre o lançamento do novo Programa ‘PROVE’, que está sendo elaborada com a proposta de incentivo às proteínas vegetais por meio de propostas de educação alimentar e nutricional. Nosso objetivo é ajudar na retomada das leguminosas como protagonistas do prato e valorizar os aspectos econômicos, sociais e culturais desses alimentos”, observa Renata.
SOBRE A SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA
Fundada em 2003, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) é uma organização sem fins lucrativos que promove a alimentação vegetariana como uma escolha ética, saudável, sustentável e socialmente justa. Por meio de campanhas, programas, convênios, eventos, pesquisa e ativismo, a SVB realiza conscientização sobre os benefícios do vegetarianismo e trabalha para aumentar o acesso da população a produtos e serviços vegetarianos. Para mais informações, acesse www.svb.org.br ou os nossos perfis no Instagram , Facebook e Youtube .