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Publicado: 04 Janeiro 2021
Ao procurar um especialista em implantodontia, especialidade da Odontologia que promove a reposição de dentes perdidos, existe uma probabilidade muito grande de ouvir que é necessário fazer um “enxerto”, de acordo com o plano de tratamento proposto. Existem inúmeras situações clínicas que os enxertos são utilizados na regeneração e/ou ganho de volume ósseo para a adequada instalação de um ou mais implantes. A mesma necessidade do uso de enxertos pode acontecer em cirurgias ortopédicas.
Defeitos ósseos provocados por infecções, traumas, neoplasias e anomalias de desenvolvimento não se regeneram espontaneamente e representam um desafio na medicina e odontologia. Um dos principais fatores que impede a regeneração óssea é a rápida formação de tecido conjuntivo que invade a área do defeito, inviabilizando parcial ou totalmente a formação de novo osso no local. Assim, a regeneração ou reparos e defeitos ósseos ou mesmo ganho de altura e volume, necessitam da técnica cirúrgica RTG - regeneração tecidual guiada, a qual demanda a utilização de substitutos ósseos (enxertos) e membranas para proteção da região enxertada.
Assim, o profissional, ao planejar esse tipo de cirurgia, precisa decidir pela utilização de algum tipo de enxerto e as opções atuais são: a autóloga, que é obtida do próprio paciente, consistindo na retirada do tecido de uma região doadora para outra receptora, a homóloga que é obtida de outros seres humanos doadores advindos de bancos de tecidos, a xenógena que tem origem em outras espécies não humanas e engloba geralmente as espécies bovinas, equinas e suínas. E, por fim, os sintéticos que são 100% industrializados. Todos esses tipos de enxertos atendem a rígidos padrões de processamento, normas, certificações e são considerados extremamente seguros.
Os enxertos ósseos e membranas de origem animal têm como matéria prima o colágeno e o osso animal adquiridos de criadouros e matadouros certificados e com controles específicos, sendo alguns desses situados na Austrália, país que sempre foi considerado livre e seguro no controle das doenças priônicas como a EEB – encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como a doença da “vaca louca”.
Já os produtos sintéticos são resultados da alta tecnologia e pesquisa e representam uma verdadeira evolução no mercado.
Em 1985, uma companhia situada em Nova Iorque lançou seu primeiro enxerto ósseo sintético e desde então, por meio de muita pesquisa e recursos tecnológicos, o mercado vem se remodelando e inovando no mundo todo.
No Brasil, temos alguns fabricantes de biomateriais sintéticos que apresentam resultados muito seguros, previsíveis e tão satisfatórios quanto os biomateriais tradicionais, dando assim, a vantagem da escolha por insumos que não são de origem animal, tanto para os profissionais como para os pacientes. Essa evolução no mercado é motivo de orgulho para o nosso país e, dentre as empresas aqui instaladas, dois fabricantes merecem destaque: um de Jundiaí/SP, que apresenta, dentro de seu portfólio, uma membrana sintética e reabsorvível feita de polidioxanona – PDO, com preço compatível com as demais membranas de colágeno animal; a outra empresa, situada em Curitiba/PR, desenvolveu um substituto ósseo nanoparticulado com resultados tão satisfatórios que foram tema de publicação na revista científica Nature, uma das mais respeitadas do mundo, produto que custa até 60% menos do que o considerado padrão ouro dentre os biomateriais de origem animal.
Algo muito controverso e com muita desinformação são as restrições posteriores ao enxerto de origem animal, como a doação de sangue. Por isso é fundamental entender que cada banco de sangue atende a uma ou mais normas de critérios para elegibilidade de doadores que podem ser normas nacionais (Ministério da Saúde) e/ou internacionais, no caso da OMS - Organização Mundial de Saúde e da AABB – Associação Americana de Bancos de Sangue.
Dentre os critérios de elegibilidade da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, que segue as regulações nacionais, o doador que recebeu biomaterial de origem animal ou humana (banco de tecidos) está apto a ser doador somente após 12 meses do procedimento, e para a triagem, deve levar a bula do material utilizado que pode ser obtida com o Cirurgião-Dentista ou Médico Ortopedista. Já os que receberam biomaterial de origem sintética estão novamente elegíveis após 03 meses do procedimento, não por causa do biomaterial utilizado e sim pelo ato cirúrgico em si.
Nos bancos de sangue e hospitais que seguem as normas internacionais (OMS e/ou AABB), além das normas nacionais e de acordo com as diretrizes atuais, os doadores estariam permanentemente inelegíveis para doação de sangue, ao passo que os que receberam enxertia com materiais sintéticos estão aptos para a doação. Por isso, vale lembrar que é dever ético dos profissionais informar e orientar seus pacientes sobre os produtos que serão utilizados nos procedimentos.
Na medicina e na odontologia atuais, a humanização do atendimento é uma realidade que vem se consolidando e permite uma abordagem global do paciente, permitindo propor tratamentos mais consonantes com as crenças e anseios individuais. Neste prisma, os biomateriais sintéticos mostram que vieram para ficar e estão ganhando cada vez mais espaço entre os profissionais, seguindo uma tendência mundial.
Dr. Wilson Victor Rogerini Jr
Cirurgião-Dentista
CROSP 122682
Sobre o autor:
Dr. Wilson Victor Rogerini Jr é Cirurgião-Dentista, mestrando em Patologia Oral e Maxilofacial e Pacientes Especiais pela Universidade de São Paulo e especializado em Implantodontia.